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Escrevemos para os outros ou para nós próprios? A velha pergunta é engraçada. Quando eu escrevo, tenho a impressão de que cem mil pessoas —que me desejam todo o bem e todo o mal que há no mundo— espiam por cima do meu ombro, ditam, avaliam, comentam, insinuam, me puxam o cabelo, brigam, gritam e se calam de golpe, chiam novamente, esperneam, suspiram, ameaçam, me beijam, me espetam, me arrancam da cadeira, me sentam de novo, me mimam, aproximam seus focinhos e me chupam o sangue: e esses odiosos vampiros alborotadores, esses demônios, essa multidão tirânica para a qual eu trabalho, aterrorizado, adulado, cirandado, sou eu sozinho. (pt) |