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Será possível esperar que realizemos um sacrifício do entendimento, um sacrificium intellectus, para poder aceitar aquilo que sinceramente não podemos considerar verídico - só porque tais concepções estão contidas na Bíblia? Ou deveríamos deixar de lado os versículos do Novo Testamento que contêm tais concepções mitológicas e selecionar os que não constituem um tropeço desse tipo para o ser humano moderno? De fato, a pregação de Jesus não se limitou a afirmações escatológicas. Proclamou também a vontade de Deus, que é Seu mandamento, o mandamento de fazer o bem. Jesus exige veracidade e pureza, disposição para o sacrifício e para o amor. Exige que o ser humano todo seja obediente a Deus, e se insurge contra a ilusào de que possamos cumprir nosso dever para com Deus com a mera observância de determinadas prescrições externas. Se as exigências éticas de Jesus constituem tropeços para o ser humano moderno, somente o são em virtude de sua vontade egoísta, mas não de sua inteligência.
Que se desprende disso tudo? Deveremos conservar a pregação ética de Jesus e abandonar sua pregação escatológica? Haveremos de reduzir sua pregação do senhorio de Deus ao chamado "evangelho social"? Ou existe ainda uma terceira possibilidade? Temos que perguntar-nos se a pregação escatológica e o conjunto dos enunciados mitológicos contêm um significado ainda mais profundo, que permanece oculto sob o invólucro da mitologia. Se é assim, devemos abandonar as concepções mitológicas precisamente porque queremos conservar seu significado mais profundo. A esse método de interpretação do Novo Testamento, que procura redescobrir o significado mais profundo oculto por trás das concepções mitológicas, camo de "demitologização" - termo que nào deixa de ser bastante insatisfatório. Não se propõe a eliminar os enunciados mitológicos, mas sim interpretá-los. (pt) |